Por Yago Sales
Quase nove anos depois de se desesperar ao ver o corpo do filho, Valério Luiz, dentro de um carro perfurado a balas, o coração de Mané de Oliveira parou de bater na madrugada do dia 13 de fevereiro.
Com câncer, esquálido, e envelhecido pelo cansaço de sessões de quimioterapia, Mané de Oliveira foi lembrado pelo jeito peremptório, rotundo e forte de ser.
O vozeirão, que escorria – nos últimos 50 anos – pelos estúdios e ecoava pelo rádio e televisão, tinha no discurso paterno um desejo: ver cinco pessoas apontadas pela Polícia Civil e o Ministério Público atrás das grades.
Num típico rompante autoritário, o consenso em 2012 era atirar quantas vezes fossem necessários para silenciar Valério Luiz. Segundo a família à época e a conclusão de policiais civis, o cronista esportivo foi calado a balas por ter dedicado espaços em programas de esporte possíveis falcatruas em clubes de futebol.
O alvo, principalmente, era o Atlético Goianiense. À época do crime, Valério tornou pública suspeitas ao então presidente do clube, Maurício Sampaio.
Ao contrário do que lemos, assistimos e ouvimos – num oficialismo compreensível -, Valério ia na contramão da maioria dos colegas que cobrem o esporte. Ia a fundo. Contava os bastidores.
Quando soube da morte do filho, Mané foi ao local do crime: em frente à rádio que Valério trabalhava. Sim, é bom lembrar que um jornalista foi assassinado – seria um recado a jornalistas críticos ?- assim que terminou o expediente.
O desaforo não daria medo ao velho Mané que, em busca de Justiça, elegeu-se o mais bem votado deputado estadual e sempre usava a tribuna para arrepiar os assassinos do filho. E, não raro, convocava coletivas de imprensa em seu clube com o intuito de relembrar o caso.
Participou de passeatas e, pai – e que pai não gritaria ao mundo a violência contra um filho? – tinha o sonho de ver os covardes condenados num processo lento, assustadiço e estranho: quase nove anos e nenhuma reposta.
Caberá, sozinho, ao advogado Valério Luiz Filho, aos amigos (não os que se silenciam até hoje) e à Justiça responder aos clamores de Mané. É o mínimo.