Do lado de fora de cemitério, integrantes de movimentos sociais protestam: ‘Quem mandou matar Dom e Bruno?’
O velório de Dom Phillips acontece na manhã deste domingo no Cemitério Parque da Colina, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Em cima de um caixão fechado e coberto pela bandeira do Brasil, está uma foto de Dom. Apesar da cerimônia de despedida ser restrita a familiares e amigos do jornalista britânico assassinado no Vale do Javari neste mês, a esposa de Dom, Alessandra Sampaio, e a irmã, Sian Phillips, fizeram pronunciamentos, destacando a motivação do crime e que a família está comprometida em continuar seu trabalho.
— Era um brilhante jornalista, comprometido em dividir histórias sobre a diversidade brasileira, habitantes de favelas e indígenas da Amazônia. Ele foi morto pois tentou contar ao mundo o que está acontecendo na floresta tropical com seus habitantes, sobre o impacto das atividades ilegais nessa floresta. Ele foi morto tentando ajudar indígenas. Ele e Bruno entendiam o risco de fazer isso nesse mundo — falou a irmã Sian, afirmando ser urgente uma mudança política e econômica para a conservação da Amazônia: — Sua família, amigos, nós estamos comprometidos em continuar esse trabalho.
Sian falou ainda sobre sua paixão pela música, futebol e paisagens naturais, que motivaram sua mudança para o Brasil, além do mais importante: seu casamento com Ale, como é chamada. Ela ainda lembrou os planos dois de adotarem duas crianças neste país e lamentou a perda de um ser humano “amplamente adorável”:
— Estamos tristes também por ter sido negado esse pai a uma próxima geração — colocou.
Além de familiares britânicos e brasileiros de Dom e amigos dos dois países, está presente um representante do governo britânico Anthony Preston.
Do lado de fora do cemitério, integrantes de movimentos sociais cobram a continuidade da apuração do assassinato. Com uma faixa estendida, eles perguntam “Quem mandou matar Dom e Bruno?”.
A esposa Alessandra Sampaio agradeceu aos povos indígenas, “que seguem conosco pela vida da floresta”, a todos que participaram das buscas pelo corpo, entre “órgãos oficiais e pessoas físicas”, e jornalistas, “que tem sido fundamentais na cobrança da resolução do caso”:
— Hoje, Dom será cremado no país que amava, seu lar escolhido, Brasil. Dom era uma pessoa muito especial, não apenas por defender aquilo que acreditava como profissional, mas por ter um coração enorme. Seguiremos atentos a todos os desdobramentos do caso e renovamos nossa luta para que nossa dor e a de família de Bruno não se repitam. Como também de outros jornalistas e defensores do meio ambiente que seguem em risco. Seguem em risco.
Os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips foram entregues às famílias pela Polícia Federal somente nesta quinta-feira, mais de duas semanas após seus desaparecimentos. Na manhã de sexta, Bruno foi enterrado no cemitério Morada da Paz, em Paulista, região metropolitana do Recife (PE). O caixão foi coberto com bandeiras do estado de Pernambuco, do Sport – time de coração dele – e com uma camisa da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari. O velório contou com a presença de indígenas, como os xukurus, que realizaram rituais pela passagem de Bruno. Também houve pedidos de Justiça, e críticas à gestão do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo laudo feito nos corpos, encontrados no dia 15 de junho, 10 dias após o desaparecimento de Dom e Bruno, os dois foram mortos a tiros, com munição de caça.