Por Yago Sales
“Incorruptível”, “humano”, “acessível”. São três adjetivos comuns ao delegado Alexandre Pinto Lourenço. Pessoas ligadas aos Direitos Humanos (não aqueles que os analfabetos políticos chamam de direitos dos manos) comemoram a nomeação de Lourenço ao cargo mais importante da polícia judiciária goiana.
Embora o governo de Ronaldo Caiado tenha alguma consonância com o governo de Jair Bolsonaro – as rusgas sobre o posicionamento negacionista do presidente se superaram -, a indicação do novo delegado-geral agradou nomes importantes da militância pelos direitos humanos, em Goiás.
Um aspecto interessante nesta indicação: o delegado Alexandre Pinto Lourenço é publicamente adverso ao deputado (PSL) Major Araújo, declaradamente defensor de Jair Bolsonaro. Em novembro do ano passado, então candidato à Prefeitura de Goiânia, Major Araújo disse ao jornalista Jackson Abrão: “Sou bolsonarista, continuarei sendo bolsonarista”.
Aos 52 anos, dos quais 17 de polícia, o indicado por Ronaldo Caiado já peitou uma das instituições mais fortes do Brasil: a Polícia Militar goiana. E, por isso, causou ira em Major Araújo, que se mantém há três mandatos na Assembleia Legislativa graças ao eleitorado fardado.
Major Araújo, registrado em um cartório como Júnio Alves Araújo pelos pais, foi oposição ao governo do ex-governador Marconi Perillo. Quando Perillo foi preso em outubro de 2018, Major Araújo arranjou um carro de som e passou horas repetindo frases contra a corrupção em frente à sede da Polícia Federal (PF), no Setor Pedro Ludovico.
Como o texto não se trata exatamente do deputado (que deve ser perfilado em breve), não vou nem me aprofundar com o episódio em que, eleito vice-prefeito de Goiânia em 2016, renunciou ao cargo; ou quando sugeriu criar a “bolsa arma municipal”. No fim da campanha eleitoral à Prefeitura, o major obteve pouco mais que 20 mil votos. No pleito que o reelegeu deputado, obteve 38 mil votos.
Na ode do pleito de outsider de 2018, o major compôs chapa com Ronaldo Caiado – depois rompeu, o que é comum ao deputado -, o governador que decidiu colocar em um dos cargos de maior prestígio o delegado que botou às claras um suposto grupo de extermínio na Operação “Operação Resgate”.
Vinte e quatro pessoas foram indiciadas, incluindo 17 policiais militares. Houve 21 indiciamentos por formação de quadrilha armada, 9 por homicídio, 5 por ocultação de cadáver, 4 por tortura, 9 por roubo e receptação. É uma lista de crimes que podem ser conferida no site do próprio governo de Goiás.
Na época chefe do Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gerco), o delegado Alexandre Pinto Lourenço afirmou – a partir de extensa investigação policial – que os mortos eram jogados no Rio Meia Ponte ou em cisternas. Eles eram estripados para acelerar a decomposição. Horror. A polícia acredita que tenham ocorrido outros homicídios relacionados a esses autores.
Depois destas operações, o deputado major Araújo saiu, naturalmente, em defesa dos policiais em artigo no jornal Diário da Manhã. Disse o que queria e adjetivou o delegado de “propineiro”. Acabou processado por injúria, ameaça, calúnia e difamação.
O deputado depois disse à TV Metrópoles que o delegado tinha sorte por não ter sofrido represálias. “Fica aí perseguindo policiais militares. Tem gente que dá sorte demais nessa terra. Se fosse noutro lugar aí, isso já tinha se resolvido”, disse ele.
Da defensoria pública ao Ministério Público de Goiás, representantes comumente crítico ao Caiado elogiam a escolha.