terça-feira , 12 novembro 2024

Ex-senador era dono da terra que terminou na morte de advogados em Goiânia

Por Leonardo Belloni e Yago Sales

Uma ligação marcava um encontro com os advogados Marcus Aprígio Chaves e Frank Carvalhaes que terminaria com os dois brutalmente assassinados em um dos bairros mais nobres de Goiânia no dia 27 de outubro, uma quinta-feira. A ousadia dos assassinos acendeu um alerta pouco visto no Palácio das Esmeraldas em pouco menos de dois anos da gestão de Ronaldo Caiado. O governador ordenou imediata atenção ao caso, enviando forte aparato policial. “Não tenho palavras para descrever tamanha barbaridade”, já dizia o líder do Governo. Delegados, os melhores do estado, foram designados para encontrar, a qualquer custo, os executores e, claro, quem mandou matar os dois advogados.

Moto que teria sido usada em homicídio contra advogados (Foto: Reprodução/ Polícia Civil)

Sem dúvidas, as balas que mataram os dois representantes da garantia de direitos, representava uma afronta à Ordem dos Advogados do Brasil. E ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Frank Carvalhaes era conselheiro da OAB. E, pouco tempo depois de a notícia do crime se espalhar, soube-se que o advogado Marcus Aprígio era filho do desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás, Leobino Valente Chaves.

Advogados Marcus Aprígio Chaves e Frank Alessandro Carvalhaes de Assis (Foto: Reprodução/OAB-GO)

O crime, ao contrário do que os executores imaginavam, não sairia incólume. Mas pouco se fala sobre qual o verdadeiro interesse em silenciar para sempre os advogados que venceram, na Justiça, uma causa milionária. Segundo a investigação, propriedades rurais avaliadas em R$ 46 milhões no município de São Domingos, na divisa com a Bahia.

Suspeito de mandar matar os advogados, o fazendeiro Nei Castelli  foi preso com outros três suspeitos. O executor, Pedro Henrique Martins, que durante a reconstituição do caso mostrou-se ser extremamente frio e descritivo; Jaberson Gomes, aquele que acompanhava Pedro Henrique no dia do crime, que segundo a polícia Militar foi morto em troca de tiros com a polícia; a namorada de Pedro, Hélica Ribeiro Gomes; e o apontado pelas investigações como o intermediador das mortes, Cosme Lompa Tavares.

Fazenda do grupo Castelli (Foto: Reprodução)

Conforme a reportagem do Atilados apurou, Castelli é um dos administradores das propriedades ao lado de familiares.  Mas, por enquanto, vamos relatar apenas sobre como tudo começou. Inicialmente, os hectares eram de um ex-senador da república, o agropecuarista Roberto Wypych, que faleceu de causas naturais aos 92 anos, em Anápolis. Wypych morava com a família de um segundo casamento.

A reportagem do Atilados conversou com o filho do ex-senador. Roberto Wypych Júnior, que é advogado e proprietário de um dos escritórios de advocacia paranaenses mais respeitados, explicou que o pai havia vendido a propriedade para um outro negociador de terras em 2007. “No final da vida, meu pai estava mais preocupado com a saúde. Não comentava mais sobre essas questões de terra. Sei que o nome dele consta nos processos porque foi ele que iniciou o processo. Mas ele não acompanhava”, disse Roberto, por telefone, no final da semana passada.

Roberto Wypych Júnior (Foto: Reprodução/ Facebook)

“É muito triste saber que dois advogados foram mortos”, disse ele, afirmando que não conhecia os Castelli. “Minha relação com meu pai era apenas de filho com pai.” Roberto Wypych Júnior declarou que o pai, que sempre teve um perfil aventureiro e empreendedor, deixou a família há anos, mas que mantinha um contato constante. O pai em Anápolis e o filho no Paraná.

Segundo Roberto Wypych Júnior, o pai – o ex-Senador – vendeu as propriedades a Luciano Vasconcelos. Morando fora do país, a reportagem não conseguiu falar com ele.

Sobre o ex-Senador, Roberto Wypych

Natural do Paraná, Roberto Wypych exerceu um mandato de deputado estadual a partir de 1967 e depois foi escolhido como suplente do senador Afonso Camargo, a quem substituiu no Senado Federal no período em que Camargo foi ministro dos Transportes do Governo José Sarney, entre 1985 e 1986.  Sempre com a sigla do PSDB. Em Cascavel, cidade onde teve forte atuação, sua família é tradicional e inclusive possui a concessão do 1º Cartório de Registro de Imóveis.

Ex-Senador, Roberto Wypych (Foto: Reprodução/ Coopavel)

Como agropecuarista, Roberto Wypych se destacou grandemente no ramo cooperativista. Ele fundou e foi presidente da Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel)e da Cotriguaçu. Foi presidente do Rotary e candidato a prefeitura de Cascavel-PR, em 1982. Em 2011. o título de Cidadão Honorário do município.

Roberto Wypych faleceu de causas naturais aos 92 anos, no dia 19 de agosto de 2020. Ou seja, 70 dias de diferença dos advogados terem sido assassinados em Goiânia.

 

 

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