Os irmãos Osoney da Costa e Amarildo dos Santos, que praticam pesca ilegal na região, admitiram o homicídio de Dom Phillips e Bruno Pereira à polícia
Um dos suspeitos presos pelo desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, desaparecidos há 11 dias, confessou nesta quarta-feira, dia 15),o crime à Polícia Federal. Osoney da Costa disse que ele e o irmão, Amarildo dos Santos, ambos pescadores, mataram os dois no dia 5 após serem vistos por eles a pescar ilegalmente.
Dom e Bruno foram sequestrados e mortos pela dupla, depois decepados, esquartejados e queimados e, finalmente, atirados numa vala na região do Vale do Javari, na Amazónia, contaram ainda os criminosos, de acordo com a TV Bandeirantes. É aguardada a todo o instante uma conferência de imprensa da polícia no local.
Os irmãos Amarildo e Oseney de Oliveira, ambos apontados por testemunhas como envolvidos por terem sido vistos a perseguir o barco do ativista e do jornalista, tinham sido levados a meio da tarde de ontem levados ao local do desaparecimento de Pereira e Phillips. Eles moram na comunidade de São Gabriel, local onde Pereira e Phillips foram vistos pela última vez.
Os dois estavam desaparecidos desde domingo, dia 5, quando deixaram a comunidade de São Rafael, onde Bruno tinha marcada reunião com um líder local, conhecido como Churrasco, e se dirigiram, pelo rio Itaquaí, a Atalaia do Norte, a maior cidade da região. O percurso, que eles não completaram, duraria cerca de duas horas.
A região do Vale do Javari é conhecida por ter o maior número de indígenas em isolamento voluntário do mundo mas também, nos últimos anos, por ser uma rota de escoamento de cocaína do Peru para o Brasil. Em paralelo aos narcotraficantes, as terras vêm sendo invadidas por garimpeiros, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais, o que a torna particularmente violenta.
Em 2019, o indigenista Maxsiel dos Santos foi morto a tiros em Tabatinga, cidade vizinha. A Funai relatou ainda mais oito episódios de violência na zona próxima à do desaparecimento de Pereira e Phillips. E integrantes da Univaja relataram ameaças de morte, em abril, na praça central de Atalaia do Norte, o destino dos dois. “Vai acontecer com vocês o mesmo que aconteceu com o Maxsiel”, terá dito um pescador ilegal a um elemento da Univaja.
Algumas das testemunhas ouvidas pela polícia falaram em ameaças também a Pereira e Phillips nos últimos dias.
Pereira havia entregado à Polícia Federal e o Ministério Público Federal mapas do local de atuação e fotos dos membros de uma organização criminosa que atua na pesca e caça ilegais no Vale do Javari.
Ainda antes da notícia da confissão de Osoney e Amarildo, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o presidente do Brasil Jair Bolsonaro pronunciaram-se sobre o tema.
O presidente do Brasil disse ainda, em entrevista ao canal de youtube da jornalista e sua apoiante Leda Nagle, que não tem esperança de encontrar os corpos. “Aquela região, você pode ver, pelo que tudo indica, se mataram os dois, se mataram, espero que não, eles estão dentro de água e dentro de água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha lá no Javari. A gente lamenta tudo isso aí”.
Bolsonaro chamou a ida em trabalho de Pereira e Phillips à região – o primeiro tinha por missão cuidar das populações ribeirinhas e o segundo fazer um livro sobre os índios isolados do Javari – de “excursão” e “aventura”.
“Ele tinha que ter mais que redobrada atenção para consigo próprio e resolveu fazer uma excursão. A gente não sabe se alguém viu e foi atrás dele, lá tem pirata no rio, lá tem tudo que possa imaginar lá. É muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado”.
Johnson disse que “como todos nesta Casa [dos Comuns], estamos profundamente preocupados com o que pode ter acontecido com ele [Dom Phillips”. “Funcionários do escritório de relações exteriores estão trabalhando junto às autoridades brasileiras”, avançou, reagindo a pedido de informações da ex-primeira ministra Theresa May.
“Torne o caso uma prioridade diplomática e faça todo o possível para que as autoridades brasileiras coloquem os recursos necessários para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com Dom e Bruno”, pediu May.
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