sexta-feira , 22 novembro 2024

Em um ano marcado por ineditismo, a escolha do representante para o cargo do Executivo de Cavalcante não poderia ser diferente. A cidade, que circunda a área da Chapada dos Veadeiros tem, além de toda a riqueza natural, uma população que resistiu à milhares de adversidades para se tornar, atualmente, o maior quilombo brasileiro.

Em meio aos morros e serras do Nordeste goiano – que engloba os municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, na divisa do estado com Tocantins – os primeiros escravos fugidos encontraram o refúgio perfeito para os anos que viveram sem interferência externa. Ali, no meio da mata não tão densa do Cerrado, foi se criando o quilombo Kalunga. O nome remete à xxx.

Foi ali no meio da mata que os escravos abriram estradas, chegando a vilarejos próximos para fazer a troca dos produtos produzidos no local. É muito comum a fala de tradicionais dizendo sobre o preconceito que havia ali nos vilarejos pelas pessoas urbanas com estes devido ao seu estado de sujeira, mas, eles tinham que andar tempos para chegar ao vilarejo mais próximo, antes da criação de Cavalcante em 1831. Atualmente, as casas de adobe de barro foram sendo substituídas pelas de alvenaria.

Foi só após 189 anos depois da fundação da cidade que um quilombola conseguiu chegar ao posto de prefeito. Vilmar Souza Costa, ou Vilmar Kalunga como é conhecido, chegou ao cargo com a confiança não somente do povo Kalunga, mas também dos cavalcantenses. Ou, como constata a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Quilombolas (Conaq), o segundo membro de uma comunidade remanescente que ocupa o cargo municipal mais importante.

Mesmo representando 80% da população de Cavalcante – como contabiliza Vilmar –, o quilombo nunca havia elegido um prefeito. A política ultrapassada das famílias tradicionais do interior goiano foi derrotada pela representatividade progressista do novo prefeito.

Carregando no peito a herança da luta do povo negro, se formou em educação no campo, na Universidade de Brasília (UnB), decidindo se juntar aos tradicionais para tocar a Associação Quilombola Kalunga (AGK), que atua sobre toda a região do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural do quilombo.

Nascido e criado no Vão do Moleque ao lado de seus dez irmãos, Vilmar teve uma vida regada de amor e carinho por parte de seus pais, que batalhavam para colocar as refeições na mesa. Foi assim que descobriu sua vocação para a ajuda comunitária. Hoje, o atual prefeito é conhecido em todo o sítio.

Criado apenas em 1991, por meio de lei estadual, o sítio tem importância histórica, social e cultural para o povoado. Com mais de 262 mil hectares reconhecidos legalmente, os Kalungas fazem da terra a sua moradia, o seu sustento e o seu orgulho. Foi ali que, longe dos brancos, eles conseguiram sobreviver escondidos e se manter até os dias atuais, se tornando o maior quilombo do Brasil.

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