Avenida 1ª Radial, número 813, setor Pedro Ludovico, em Goiânia. Lugar onde funciona um dos escritórios mais luxuosos da capital, o local de trabalho, e reuniões, da advogada Maria Luiza Póvoa Cruz, avaliado em mais de R$ 13 milhões. Logo subindo os seus dez degraus, com acabamento em granito nobre, percebe-se onde estamos entrando. A sua clássica porta branca com cerca de dois metros de altura – aberta por um segurança com um tom intimidador – já explica o tamanho de tudo que reside, ou atua, lá.
Na recepção, a comprovação: trata-se de um ambiente hostil. Três seguranças e duas atendentes que delicadamente perguntam se é a primeira visita à doutora. Quadros que dão ainda mais valor ao imóvel. Móveis de luxo, um verdadeiro cenário de classe, glamour e sombras. Com seu nome no brasão do escritório, Maria Luiza não esconde o orgulho pela linhagem e a necessidade de continuá-la.
Nobreza goiana
Música, medicina e cultura, exemplos nunca faltaram para a ex-juíza. O pai foi o médico Valdemiro Saraiva Cruz, homenageado pelo ex-governador Henrique Santillo, que batizou o Hospital de Urgências de Goiânia com o seu nome, em 1991. Na época, Santillo descreveu o médico como “um homem que representa a medicina de forma plena. Ajudava, guiava e cuidava da população”. O ex-governador, emocionado, ainda lembrou: “Chegou a colocar garrafas com água quente para aquecer os recém nascidos, por falta de leitos”.
Além de percorrer os corredores da Casa Verde, edifício oficial do governo goiano, na Praça Pedro Ludovico Teixeira, o médico se manteve na elite goiana durante toda sua vida e, com várias atividades sociais de destaque, conseguiu prolongar seu nome mesmo depois de falecido. Além de o Hugo o médico dá nome a uma praça no setor e a uma rua no setor de Goiânia.
Quando não estava em alguma maternidade trazendo crianças ao mundo, Valdemiro se orgulhava da esposa, Maria Luiza – o mesmo nome da filha ex-juíza -, nos concertos. É que dona Tânia, como é conhecida, aos 90 anos, é pianista e co-fundadora do Conservatório Goiano de Música. Sempre na mídia, em 2016, na Cidade de Goiás, para homenagear a musicista.
Maria Luiza: entre mistérios e o sucesso
A advogada atuou como escrevente oficializada e consultora jurídica , aí começa o primeiro mistério: entrou na magistratura como juíza substituta em Israelândia (1989). Já no ano seguinte, se tornou a juíza titular em Guapó (1990), migrando entre várias cidades de Goiás, estando no máximo um ano no cargo nesses municípios. Até que, a partir de 1999 tornou-se titular da 2ª Vara de Família e Sucessões.
Lugar onde começa outro mistério de sua carreira: em 2010 a então juíza se aposentada de sua função. A versão oficial é de que após mais de 20 anos de atuação no Judiciário goiano (Decreto Judiciário 2048/2010 – TJGO), Maria Luiza Póvoa deixa o cargo. Naquela ocasião, recebeu homenagem do então presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, desembargador Paulo Teles.
Começava então o seu mistério fundamentado. Como de praxe, quando um juiz se aposenta deve esperar três anos para voltar a advogar na comarca em que trabalha. Instituído no artigo 95, parágrafo único, inciso V, da Constituição Federal. Mas não foi o que aconteceu para Maria Luiza.
Logo após se desligar da Magistratura, a advogada movia uma ação de interdição de um filho contra a mãe, na comarca de Goiânia. E pode tranquilamente continuar com o caso. Tudo isso assegurado pela 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás, de forma unânime, que na decisão disse: “Comungo da ideia de que o termo ‘juízo’ deve ter o significado de ‘vara judicial’, e não de comarca, em respeito, inclusive, à garantia do direito social ao trabalho[…]”, fundamentou o Desembargador-Relator, Olavo Junqueira de Andrade.
Como herança do pai, a advogada herdou o gosto por razões humanitárias, ou apenas a exposição que isso lhe dá. Carregando, entre vários outros, seu título de maior orgulho: presidente das Comissões Nacional e Estadual do Idoso do Ibdfam.
Faz sucesso, dinheiro e hoje leva a vida com o luxo que pode comprar. Viagens, festas no Copacabana Palace, imóveis e carros de luxo. Seu poder lhe garante ser intocável e respeitada, nota-se pela quantidade de colegas de profissão que não quiseram comentar o caso com receio de represálias. Com a maestria do direito, protetores, processos, colocando-a no status que se encontra: inatingível.